O incêndio

Tenho os sapatos calçados e seguro com as mãos uma mangueira de rega por onde baba um fio de água. À minha volta o capim seco continua a arder como se nada fosse. O depósito de água está nas últimas e não há água. Não sei quanto tempo vão demorar os bombeiros a chegar.

Tudo começou com dois miúdos que no terreno ao lado brincavam com fósforos. Um deles acendeu a caixa toda sem querer, largou-a com o susto e acendeu o capim. Antes que alguém pudesse reagir já o fogo estava na cerca de palapa da nossa casa. Foi aí que me telefonaram.

Quando cheguei já tinha ardido a cerca toda do lado poente, enquanto o Sr. Manuel, tentando evitar a propagação à casa pelo capim, atirava água de longe. Os chinelos que trazia calçados não o deixavam aproximar-se sem queimar os pés. Peguei na mangueira e fui eu para o meio de fogo tentar contê-lo. Um grupo de vizinhos, entre os quais a família dos autores materiais do sinistro, traziam baldes e alguidares para ajudar.

A mangueira não faz grande coisa, mas em conjunto com os baldes de água, conseguimos conter as chamas até chegarem os bombeiros e darem cabo do incêndio. A operação foi um sucesso.

Quando no fim de tudo, já com os bombeiros a caminho do quartel e os vizinhos regressados às suas casas, me sentei a descansar, a contemplar a cerca queimada e a cinza fumegante, percebi com a força de uma epifania que o meu tempo em Timor-Leste tinha chegado ao fim.